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Artigo: O vendedor de livros e o crescimento do mundo virtual.

28/02/2019 16h21

No dia 14 de março é comemorado o dia do livreiro. Aproveitamos a data para falar deste peculiar mercado e das transformações que têm sofrido, especialmente nos últimos anos

 

“Livros não mudam o mundo; quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. – Mario Quintana, 1906-1994, poeta brasileiro.

 

O livreiro é um personagem do imaginário coletivo. É alguém que vive e respira literatura, que passa os dias a se encantar com histórias maravilhosas que transportam o leitor para outro planeta. Que conhece cada lombada pela edição, cada capa por sua história. Que sabe onde estão os livros em cada prateleira. Que aprende o gosto do cliente assíduo e acerta em sugestões e dicas.

Mas a profissão do livreiro está acabando, sucumbindo-se ao mundo virtual.

Em vários países, o número de livrarias independentes está encolhendo a olhos vistos. No Brasil não é diferente: o número de livrarias encolheu 12%, segundo recente pesquisa da Associação Nacional de Livrarias.

Pequenas livrarias sucumbiram frente às grandes redes, e após o surgimento da Amazon, em 1990 que, com uma pequena livraria virtual, forçou o desaparecimento das grandes redes de livrarias, face aos e-books e leitores digitais, autopublicações, etc.

Neste momento em que o mercado livreiro enfrenta uma retração, as obras em formato eletrônico também vêm sofrendo. A fatia que conquistou no Brasil ainda é ínfima: apenas 1,9% do total de vendas.

Com a vinda da Amazon, inaugurando em novembro de 2015 uma loja virtual, houve um investimento no lançamento e desenvolvimento do Kindle, dominando o mercado de livro eletrônicos.

Uma pesquisa realizada em 2016 pela Pew Research Center, nos EUA, diz que a maioria dos norte-americanos prefere os livros impressos, mas que os leitores de e-books tendem a consumir mais obras do que aqueles que limitam sua leitura aos livros de papel: uma média de 24 títulos por ano, contra 15 consumidos pelos leitores do formato mais tradicional.

O formato digital chegou ao Brasil oficialmente em 2009, mas teve suas vendas ampliadas em 2012, após a entrada de grandes corporações neste mercado (como a Livraria Cultura, que vende o leitor Kobo, e a já citada Amazon).

O Censo do Livro Digital – uma pesquisa realizada em conjunto pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) – mostrou que menos da metade das editoras entrevistadas está investindo no segmento, e que o livro impresso ainda é responsável por 98,91% das vendas no país.

Se os livros físicos e digitais enfrentam dificuldades de vendas, os audiobooks voltam a ser uma tendência ainda discreta, mas em que alguns apostam um crescimento em médio prazo.

No Brasil, a Amazon, segundo informações, planeja o lançamento do Audible, sua plataforma de audiobooks, e a Saraiva já vende audiobooks através da plataforma Ubook.

Diante da rápida modernização que o mundo vem sofrendo, a internet é a grande vilã do mercado.

Segundo projeções feitas pelo Forrester Research Institute em uma pesquisa encomendada pelo Google no final do ano passado para analisar o e-commerce brasileiro, a previsão é que comércio eletrônico dobrará sua participação no varejo até 2021 e crescerá em média 12,4% ao ano.

Segundo o mesmo relatório, hoje o e-commerce é responsável por 2,8% da receita do varejo.

Mas se hoje a categoria de Livros lidera o volume de pedidos, segundo o levantamento da Forrester, a maior parte do desempenho positivo ocorrerá devido à diversificação nos tipos de compras.

Hoje já são quase 124 milhões de pessoas conectadas à Internet. Em 2021, esse número saltará para 151 milhões. Para o Google, se isso se confirmar, o Brasil sairá do que chama de “terceira fase” do e-commerce (na qual itens de mídia, eletrônicos e livros são os mais vendidos), para a “quarta fase” (a compra de itens de Beleza e Saúde, por exemplo).

Devido à concorrência de mercado, a Livraria Cultura anunciou, em dezembro de 2017, a compra da empresa de e-commerce Estante Virtual (portal de vendas de livros novos e usados). O negócio, cujo valor não foi divulgado, vai agregar, segundo informações da companhia, mais quatro milhões de clientes à base da Livraria Cultura, num passo importante em relação à líder do setor, a Saraiva. Além disso, de acordo com especialistas, é uma ofensiva contra a gigante americana de marketplace Amazon, que ampliou sua atuação no Brasil este ano.

Em julho, a Cultura já havia adquirido a Fnac do Brasil, multinacional francesa com 12 (doze) lojas em 7 (sete) Estados brasileiros, contento hoje, 18 (dezoito) livrarias no País, colocou fim aos rumores de que se fundiria à Saraiva. Com a Fnac, a Cultura passou a atuar mais fortemente na venda de eletroeletrônicos, o carro-chefe da rede francesa no Brasil.

Na Estante Virtual (denominada um “marketplace” de livros), um vendedor on line de produtos de terceiros, informou que já possuía 4 milhões de clientes cadastrados e 17,5 milhões de livros vendidos.

Como vantagem da Estante Virtual, é não acumular vários livros numa estante, eis que, em um tablet, cabem mais de mil obras, além da eliminação dos custos de distribuição e estoque (o que pode se refletir no valor pago pelo cliente) e menor impacto ecológico (por não precisar destruir árvores para fazer papel).

Um dos problemas da Estante Virtual (ou do Estante Virtual, porque se trata de um portal) é que nivelou, pelo alto, os preços dos livros. Quase todos os Estados passaram a vender como se houvesse uma tabela informal — na prática, praticamente formal. Mesmo assim, eventualmente, pode-se comprar várias obras com preços dos mais acessíveis (o frete do Correios às vezes fica mais caro do que o livro). Sem contar o mais importante: nós, amantes dos livros, passamos a ter acesso a um volume surpreendente de livros, inclusive editados noutros países.

A Estante Virtual, um sucesso inclusive comercial, gerou filhos igualmente ilustrados, como a Livronauta e o Portal dos Livreiros.

Porém, o mercado de e-books é complexo, e reflete a realidade do mercado livreiro como um todo. O brasileiro não lê, e infelizmente não há nenhuma novidade nisso. Só que, dentro do universo dos brasileiros que leem, a migração para o digital caminha a passos rápidos. Quem migra para a leitura digital, não volta mais.

Na briga pelos clientes, os grandes descontos ofertados na internet agradam quem compra, mas prejudicam outros integrantes do mercado do livro. Os pequenos livreiros de outros países contam com a proteção do governo, o que é comum na França, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha. Nestes países, os governos protegem o varejista, impedindo uma distorção que acontece no Brasil. Lá, é proibido vender lançamentos com descontos abusivos. Aqui, o que acontece é que as grandes redes oferecem percentuais que significam que não vão ter nenhum lucro ou, até prejuízo, oferecendo o livro como um chamariz, porque o custo da captura do cliente compensa. Isso é concorrência desleal e não faz sentido, porque vai contra a lei da oferta e da demanda e obedece a outra lei, a do oportunismo, que prejudica o mercado livreiro como um todo.

Artigo por André Tozzi
Gestor Cível – Limeira
andre.tozzi@zalaflimeira.com.br

 

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